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Entrevista com Claudio Cardoso, expert em comunicação e inovação para ambientes digitais.

Com uma história profissional caracterizada pelo encontro da Comunicação com a Tecnologia, muito antes dessa conjunção ser desejada pelo mercado, o professor e consultor de Comunicação Claudio Cardoso foi convidado para abrir a seção de entrevistas do novo Portal de Notícias do Cofic, falando sobre “O desafio das mídias digitais para o ambiente empresarial”. Este também é o tema da palestra que marca o lançamento do projeto Cofic Digital nesta quinta-feira, 26/09, ao vivo, no auditório da entidade, em Camaçari (BA). Claudio Cardoso é professor da UFBA, FGV SP e USP, Pós-Doutor pela Escola de Comunicação e Artes da USP e um dos mais qualificados profissionais de Comunicação Estratégica do País. 

Como aconteceu a sinergia entre Tecnologia e Comunicação na sua carreira?

Quando comecei a trabalhar, ainda muito jovem, aos 17 anos, a primeira grande influência da minha carreira veio da área de computação. Eu era de uma turma de Engenharia Elétrica e trilhei uma carreira baseada na Informática aplicada à Informação, sem imaginar o quanto essa conexão, que na época era muito rara e soava estranho na escola de Comunicação, seria tão e valorizada pelo mercado de trabalho. 

Hoje, o domínio das Tecnologias de Informação e da Comunicação faz parte de um perfil mais do que desejado numa trajetória profissional. Houve uma transformação espetacular dessa conjunção por conta da evolução da capacidade de processar e transmitir dados, das redes de concessão e da telemática, que ajudaram a democratizar as aplicações na área de Comunicação e a criar um novo ambiente para os negócios, pessoas e suas relações com as tarefas, dentro e fora das organizações. Tudo mudou, transformando todas as dimensões das atividades humanas. Do jornalismo e do acesso à informação, às relações com o comércio, bancos, saúde, a lista é infindável. Estamos vivendo em uma nova era.

De fato, a Internet provocou uma verdadeira revolução. O Cofic percebeu a necessidade de intensificar sua  presença no ambiente digital como forma de ampliar a comunicação com distintos públicos de interesse, entre os quais as empresas do Polo Industrial de Camaçari e seus parceiros. Esse é mesmo o caminho? 

Sim, e esse é um caminho sem volta. Todas as associações do mundo estão atentas e utilizando essas ferramentas em benefício próprio para estabelecer  um diálogo com a sociedade e se conectar em rede. Como uma entidade associativa, o Cofic vai se favorecer ao mesmo tempo com a agilidade e a conveniência de todos os aparatos e facilidades da comunicação digital, atualizando-se com esses novos meios e dispositivos. 

Essa atualização não é mais opcional, é compulsória, especialmente porque a marca do Cofic no Polo passa pelas relações com as empresas e a sociedade, fornecedores e funcionários, o que torna necessária uma verdadeira imersão e atualização da associação com o uso dessas novas mídias. Não há mais saída. Todas as empresas também estão mergulhadas no mesmo drama e desafio. Comunidades internas e externas estão on line e interagindo com seus protocolos transacionais, processos, projetos, todos estão expostos como marca no diálogo com a sociedade por meio dessas novas redes.

O que significa essa preocupação geral em se adaptar a essa nova era digital? E qual é o verdadeiro desafio e impacto das mídias digitais para o ambiente empresarial, em especial, na indústria?

Estamos vivendo o auge dessas transformações e todos devem estar atualizados para usar essas novas ferramentas. Qualquer acontecimento que envolva o Polo Industrial de Camaçari e suas empresas, por exemplo, tem repercussão imediata e em alta velocidade pelas mídias sociais. 

Nesse sentido, quanto mais o Cofic for detentor de conhecimentos, tiver habilidade e prática com as novas mídias, mais preparado ele estará para explicar algo, reagir, obter informações dos seus públicos e esclarecer todas as ações possíveis e necessárias na rede. Do contrário, a comunicação aconteceria à revelia do Cofic. Quem não participa do processo tem um grande problema, é necessário fazer parte dessa festa, todos têm que treinar, se qualificar, criar infraestrutura e ter gente qualificada para cuidar disso.

Por que esse movimento está sendo comparado à terceira ou até mesmo à quarta Revolução Industrial?

Essas divisões históricas são mais para ajudar a entender a cronologia dessa evolução. Estamos usando o termo da quarta Revolução Industrial para apelar para uma metáfora que remeta ao real grau de importância do que está acontecendo. Essas fases de revolução servem para dizer que mudou tudo a partir dali. Com o surgimento da rede telemática mundial, 70% a 80% da população do planeta passa a participar desse novo mundo e a interagir com a velocidade da informação, da imagem e de todas essas grandes mudanças. Uma realidade tão diferente que merece, sim, ser classificada com um nome dessa ordem, pois é uma grande revolução que transformou e continua transformando todas as relações anteriores. 

Uma associação como o Cofic, que possui uma posição destaque e relevância na região do Polo de Camaçari e na Bahia, não poderia ficar de fora dessa transformação, sob pena de não poder se manter sem a apropriação dessa nova realidade. Não se trata mais de pensar em computação como processamento de informações corporativas, mas de enxergar todo o potencial desse grande ambiente de negócios e relações sociais sem ficar alheio à essa revolução que já aconteceu e não poderá voltar atrás.

O que já mudou na Comunicação e no que consiste essa transformação digital?

Essencialmente, na obrigatoriedade e na necessidade de ter capacidade de escutar. Não existe mais uma comunicação unidirecional, apenas na televisão, no rádio e no jornal. Todas as outras formas de comunicação que usamos diariamente são bidirecionais. Temos que ter capacidade de tolerar e abarcar a voz do outro. Para isso, a primeira regra é treinar a abertura para ouvir vozes diferentes, que incomodam, que discordamos e não gostamos, para poder dialogar a partir dessa escuta. A segunda é treinar para saber como usar as novas tecnologias e entender como funcionam o dialeto, as temporalidades, o ritmo e todos os códigos que precisam ser incorporados e praticados. 

Ou seja,  qual é a atual linguagem da comunicação e o que é apropriado fazer para aprender a regra do jogo e ser um player do novo mundo. Afinal, tudo está em construção e ainda muda o tempo todo, ao contrário do mundo anterior a essa revolução, quando tínhamos a impressão de que as coisas eram mais estáveis e demoravam mais tempo. Agora a regra do jogo é o mundo beta, onde nada está pronto em definitivo, tudo vai sendo remodelado e testado na medida em que está sendo usado e não podemos demorar muito para colocar as coisas em prática.

Esse é um grande desafio, especialmente para as indústrias intensivas, como as do Polo, que possuem muitas capilaridades, como o planejamento e o aperfeiçoamento dos processos com essas novas regras, que afetam desde a segurança aos custos de operação, e devem ser respeitados considerando os choques de mentalidade e a preservação da temporalidade dos testes antes do lançamento. É preciso aprender a gerenciar todos esses conflitos ao mesmo tempo, convivendo com um mundo em ebulição, com formatos ainda imperfeitos.

Como lidar com a imagem empresarial em tempos de tanta exposição e de empoderamento tecnológico das pessoas?

Faz parte da natureza e da cultura da indústria intensiva em capital ter um ritmo próprio, habituado a uma longa reflexão, mas isso tem que ser encurtado e acelerado para melhorar a qualidade e o tempo da reflexão que o mercado exige atualmente. Claro que uma planta industrial não muda de uma hora para outra, assim como os processos envolvidos, mas é necessário incorporar uma nova mentalidade de ritmo de decisão. Para isso, o setor precisa se preparar para uma comunicação mais ágil, para a prática de novos processos e uso de novas tecnologias que permitam a escuta das novas demandas de seus clientes e da sociedade. Quem não despertar para a necessidade dessas mudanças pode se colocar em situação de desvantagem competitiva.

De que forma a criação e a distribuição de conteúdos foram impactadas por essa disrupção da Comunicação?

O impacto foi grande. Em paralelo a esse movimento produzido pela rede, houve uma evolução espetacular da informática no mundo global. Na indústria intensiva em capital, isso facilitou o desenvolvimento e a criação de máquinas e ferramentas de simulação de operações digitalmente, o que antes não era possível. Os processos de criação estão se transformando rapidamente, sendo encurtados e aperfeiçoados com a nova simulação digital a partir de ferramentas ágeis e modernas, que não são empregadas apenas na construção de sistemas de informação. Hoje, servem para tudo.

Essa distribuição digital sofreu e gerou uma transformação enorme, afetando arquivos, imagens e simulações de programas na rede em tempo real, além de repercutir e também transformar a logística física, acelerando e barateando barreiras comerciais, uma vez que os produtos passaram a viajar pelo mundo cada vez mais rápido e com menor custo, apoiados, por exemplo, na rede digital do comércio eletrônico. 

Quais são, então, os novos modelos de Comunicação?

Considerando que há uma descentralização cada vez maior dos polos de produção e emissão de comunicação, os grandes veículos que detinham o poder e o direito de pautar as notícias estão progressivamente desaparecendo. Os mais fortes ainda se mantêm, mas não como os únicos. Hoje, existe uma grande quantidade e diversidade de emissores de comunicação, com as mais variadas vertentes e visões. Há, também, uma fragmentação maior, com temáticas especializadas e uma verticalização muito maior, inclusive com a possibilidade de emergência de novos influenciadores, que surgem numa  escala e velocidade impressionantes. 

Os novos modelos são inovadores, misturam game com texto, texto com imagem, gráficos com animações, são novas formas midiáticas que não existiam antes ou passaram por uma reconfiguração fantástica. Já dirigimos com um navegador de tráfego que sugere até uma parada na lanchonete no meio caminho se o trânsito intenso levar mais tempo até o destino final e o computador achar que a pessoa está com forme. Uma comunicação que não existia e agora está associada à capacidade de processar os dados. A Inteligência Artificial proporcionou outra visão de mundo, de negócio e de comunicação, de uma forma muito mais criativa, interativa e oportuna, sendo capaz de aprender com os hábitos do usuário.

Como as indústrias e as empresas devem reagir a essas transformações?

É preciso fazer cursos, ir a feiras, palestras, garimpar a Internet, ler e acessar informações relevantes, fazendo um filtro dentro de uma profusão de conteúdos disponíveis, para desenvolver um rico acervo de conhecimentos e aumentar a cultura e a informação de qualidade, para ter um repertório também de alta performance. Para ser inovador e enfrentar esse novo mundo é necessário buscar outras saídas e investir na formação continuada do indivíduo, na sua cultura e numa educação de alto nível. Não basta ir na onda, se não compreender.

O futuro já é agora?

Sim, e o futuro está acontecendo mais rápido e de forma muito mais intensa e criativa do que se imaginava. Quando a gente assistia à série animada dos Jetsons, da década de 60, em que eles viviam em um futuro automatizado, percebemos, hoje, o quanto eles estavam atrasados na imaginação do que poderia acontecer com os dados, informações e telas de computador. O que temos, hoje, é muito mais avançado, como as mini televisões que todos carregam nas mãos e dão acesso a bancos, lojas, hospitais e a uma infinidade de serviços.

Então, mudar é uma questão de sobrevivência?

Sempre foi. Mas, antes, na história, as mudanças levavam 40 anos, depois 40 dias, agora levam 40 minutos… Mudou o ritmo, mas também a intensidade das transformações, bem como a multiplicidade de opções que podem ser alteradas. Aumentou o número de alternativas, além da velocidade e  da intensidade. Nunca as mudanças foram tão espetaculares, elas modificaram todo o planeta e continuam acontecendo, por isso o desafio continua. 

Com isso, a comunicação se torna cada vez mais estratégica e continua com o mesmo papel relevante de antes no que diz respeito ao apoio ao mundo  empresarial. Na verdade, ela se tornou ainda mais importante no mais alto nível de estratégia do negócio, dos novos formatos de operação e desempenho de imagem e no diálogo com a sociedade.

Como enxerga o Cofic e o Polo nesse movimento de mudança?

Ambos devem estar atentos a essa nova comunicação para se atualizar e fazer a transformação tecnológica que já está em andamento no mundo. É preciso investir com agilidade na capacidade técnica para conversão de um projeto digital com bastante empenho, criando uma landing page ativa, interagindo e coletando informações junto aos diferentes interlocutores e identificando tanto as demandas quanto suas queixas. Só assim será possível conseguir estabelecer um verdadeiro diálogo com os stakeholders e, rapidamente, chegar a um ponto muito bom. Como o Cofic está fazendo agora, apresentando seu novo projeto  de mídias digitais, inclusive com a criação desse novo portal de notícias.

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