As indústrias do Polo de Camaçari estão comprometidas em reduzir as emissões de carbono em suas operações. O Senai Cimatec desenvolve o programa de Descarbonização Sustentável para auxiliar as indústrias nesse processo e lança, neste mês de outubro, o Atlas do Hidrogênio Verde. Os desafios para reduzir os gases de efeito estufa no Polo e na Bahia são destaques da entrevista concedida ao Polonotícias pelo professor José Luís Gonçalves de Almeida, gerente-executivo de Negócios do Senai Cimatec e coordenador do programa de Descarbonização Sustentável.
Qual o principal desafio das indústrias do Polo de Camaçari rumo à descarbonização?
JL - É a redução significativa das emissões de carbono associadas às suas operações e processos de produção que está diretamente relacionada ao custo de investimentos para a implementação de tecnologias de baixo carbono, mudança cultural e organizacional, que não se realiza a curto prazo, inovação na busca de soluções tecnológicas avançadas, treinamento e capacitação de pessoal, além de acesso a fontes de energias limpas de baixo custo.
Qual o objetivo da descarbonização nas indústrias?
JL - Reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros gases de efeito estufa associados às atividades industriais. A principal razão para a descarbonização é reduzir a contribuição das indústrias para as mudanças climáticas. A queima de combustíveis fósseis nas operações industriais e o uso de energia intensiva muitas vezes resultam na emissão de grandes quantidades de CO2, que é um dos principais gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global. A descarbonização está alinhada com princípios de sustentabilidade, pois ajuda a preservar recursos naturais, reduzir a poluição do ar e da água e minimizar os impactos negativos no meio ambiente. A busca por processos industriais mais eficientes do ponto de vista energético também faz parte da descarbonização. Isso não apenas reduz as emissões, mas também melhora a competitividade das empresas ao diminuir os custos operacionais. Ademais, a descarbonização inexoravelmente impulsiona a inovação tecnológica e a criação de novas oportunidades de negócios. As empresas que adotam tecnologias e práticas mais limpas podem se tornar mais competitivas em mercados cada vez mais voltados para a sustentabilidade.
Como as indústrias na Bahia podem/devem reduzir a pegada de carbono?
JL - As indústrias na Bahia, assim como em qualquer lugar do mundo, devem adotar algumas estratégias como implementar medidas de eficiência energética para reduzir o consumo de energia, como a atualização de equipamentos para modelos mais eficientes e a otimização de processos. Além disso, o uso de fontes de energia renovável, como energia solar, eólica e hidroelétrica, contribui com reduções significativas de emissões de carbono. Outras medidas, como promover o uso de transporte sustentável para funcionários e mercadorias, utilização de matérias-primas e produtos químicos com menor pegada de carbono, além de considerar a reciclagem e a reutilização de materiais sempre que possível também reduzem.
Quando começou o programa de Descarbonização Sustentável do Senai Cimatec e qual a meta? Tem algum marco a alcançar?
JL - A preocupação com a descarbonização dos processos industriais no Senai Cimatec vem de longa data, com a elaboração do Atlas Eólico do Estado da Bahia em 2013, a execução do Atlas Solar Fotovoltaico do Estado da Bahia, em 2018, e com a criação da área de Eficiência Energética, em 2019. Mas alguns vetores importantes foram adicionados a esse processo em 2022, como captura, concentração, purificação de CO2, sua utilização direta ou através da conversão em plataformas de produtos químicos e combustíveis, como também a sua armazenagem por curtos e longos períodos. Um dos agentes mais importante para o processo de descarbonização gradativa das indústrias é o hidrogênio produzido a partir da eletrólise, utilizando energias limpas, o denominado hidrogênio verde ou de baixo carbono. Atualmente, a estratégia do Senai Cimatec para o hidrogênio verde está baseada em cinco dimensões, que estão se reinventando constantemente: 1) O Atlas do Hidrogênio Verde, executado pelo Cimatec e com forte apoio do governo do Estado da Bahia, que será apresentado ao público no início de outubro. 2) A conexão e projetos que estamos realizando com empresas de diversos segmentos das indústrias, como empresas de energia, petroquímica, siderurgia, mineração, papel e celulose, alimentos e bebidas, vidros, cimento, etc. 3) O HUB de hidrogênio verde no Cimatec Park, onde serão testadas diversas tecnologias de produção, entre elas, a aniônica, PEM, alcalina e de óxido sólido como também trabalhos em armazenamento e transporte, aplicações como mobilidade, na indústrias, onde o hidrogênio será utilizado como insumo e energia. 4) Centro de Competências em Hidrogênio Verde, onde estamos formando pessoas de elevado nível em H2V, através dos programas de mestrado e doutorado para fazer frente aos desafios da indústria e estar presente nas tecnologias de ponta nesse tema. 5) Por fim, o MBI em Hidrogênio Verde, que foi iniciado em agosto último, em parceria com a GIZ (Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit, instituição alemã de elevado nível), programa para desenvolvimento de habilidades e competências em hidrogênio verde direcionado aos profissionais que estarão gerenciando ou participando de projetos nesse tema.
O que o programa de Descarbonização Sustentável do Senai Cimatec aporta para as indústrias? Como as indústrias do Polo de Camaçari podem se beneficiar desse programa especificamente?
JL - O Programa de Descarbonização Sustentável do Senai Cimatec oferece vários benefícios para as indústrias, incluindo as que fazem parte do Polo Industrial de Camaçari, como a redução de custos de energia. A transição para fontes de energia mais limpas e eficientes pode reduzir os custos de energia das indústrias. Isso pode ser alcançado por meio da utilização de tecnologias de energia renovável, como painéis solares e turbinas eólicas, ou por meio da melhoria da eficiência energética nos processos de produção. O compromisso com a sustentabilidade e a descarbonização pode melhorar a imagem e a reputação das indústrias perante os clientes, investidores e a comunidade em geral. Isso pode levar a um aumento na demanda por produtos e serviços sustentáveis. À medida que os regulamentos ambientais se tornam mais rigorosos em todo o mundo, as indústrias que adotam práticas sustentáveis e de baixo carbono estarão em conformidade com as leis e regulamentos em evolução, tornando-as mais competitivas. Além disso, empresas comprometidas com a sustentabilidade são muitas vezes mais atraentes para profissionais que valorizam práticas éticas e responsáveis. Isso pode ajudar na atração de talentos com habilidades e competências diferenciadas.
Especificamente para o Polo de Camaçari, que é um importante centro industrial no Brasil, o programa de Descarbonização do Senai Cimatec pode auxiliar na diversificação da matriz energética das indústrias locais, reduzindo a dependência de fontes de energia mais poluentes. Isso pode ajudar a atrair investimentos e melhorar a sustentabilidade a longo prazo da região. Igualmente, pode promover parcerias entre empresas locais e iniciativas de pesquisa e desenvolvimento em tecnologias limpas, impulsionando a inovação industrial na região, essencial para a continuidade operacional das indústrias.
Já tem indústrias do Polo de Camaçari participando do programa de Descarbonização Sustentável do Senai Cimatec?
JL - Há várias empresas de diversos setores que já participam de projetos e serviços, incluindo empresas com plantas no Polo de Camaçari, como no Brasil e também algumas de outros países. Não podemos fornecer detalhes sobre as operações realizadas, em realização e em negociação, devido aos acordos de confidencialidades e as estratégias de cada empresa.
Em sua opinião, como avalia a posição das indústrias instaladas no Polo em relação à descarbonização?
JL - As indústrias do Polo estão atuando em diversos fatores relacionados às emissões de carbono e à sustentabilidade, como:
- No cálculo das emissões de carbono diretas e indiretas provenientes da produção de energia, processo de fabricação e do transporte de matérias-primas e produtos acabados;
- Na avaliação da eficiência energética, identificando oportunidades de redução de consumo de energia por meio de melhorias nos processos ou investimentos em tecnologias mais eficientes;
- Na utilização de energias renováveis, como solar, eólica ou biomassa, para reduzir a dependência de combustíveis fósseis;
- Em projetos de baixo carbono, como a captura e armazenamento de carbono (CCUS), a reciclagem de carbono ou a produção de hidrogênio verde e;
- Na gestão e reciclagem de resíduos industriais contribuindo significativamente para a descarbonização.
Qual o propósito do Hub do Hidrogênio Verde do Senai Cimatec e quais os resultados alcançados até agora?
JL - O HUB de Hidrogênio Verde do Senai Cimatec tem como objetivos avaliar e desenvolver as principais tecnologias de produção de hidrogênio a partir de eletrólise como também as tecnologias de transporte e armazenamento. Nesse Hub serão estudadas as aplicações do hidrogênio na mobilidade e como insumo e energia nas indústrias de diversos setores.
Como as empresas do Polo de Camaçari vão se beneficiar do Hub do Hidrogênio Verde?
JL - Tendo acesso a tecnologias de ponta com relação à produção, armazenamento, transporte e aplicações do hidrogênio. Com o HUB, terão economia significativa de custos, proporcionando um ambiente de colaboração e de mercado. Além disso, as empresas poderão manter-se informadas sobre os incentivos e políticas governamentais relacionadas com o desenvolvimento do hidrogênio, uma vez que estes podem proporcionar apoio financeiro e vantagens regulamentares para aqueles envolvidos no sector do hidrogénio verde.
Em resumo, a utilização de uma matriz energética limpa e como consequência a produção de hidrogênio verde não apenas beneficia o meio ambiente, mas também pode melhorar a competitividade e o valor dos produtos no mercado, resultando em uma série de vantagens econômicas e de imagem para as empresas que adotam essa abordagem.